sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quando vi Chico Buarque

o peso de
seus olhos ultramarinos me azuleta
e o céu da tarde então me encapa
uma nuvem gris me transpassa
e traz um tufão que me enventa

todos meus poros desvariam: esquentam ebulem eriçam erigem
as vísceras se diluem no meu ventre e vão quebrando em ondas

tudo no recorte de um instante que passado minha cor me volta

e logo o aprendismo me domina: quer estande
a contraprova de que no tempo dum momento
o alto-mar lírico soprou meus cabelos de vento

sábado, 19 de fevereiro de 2011

engarrafamento

parado encadeado ao automóvel
em que eu me encontro trancafiado
mais imóvel ainda em relação ao chão:
são as engarrafas descasuais
tão pontuais que me irrito
mas será o benedito?
há quanto tempo?
que horas são?

veja só, um catavento! - um passatempo -
a girar antihorário... seria as antihoras
melhores que esse tempo?

desgirou o catavento
fazendo um quase parar
até pairar em favor horário
e que favor... gira depressa!

ah! fosse assim o meu relógio
estaria eu noutro lugar melhor...
ou pior! já cansada a retornar
pr'essas engarrafas retornáveis

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

tesoureado

queria me embriagar
me encontrar de ti perdido
me esperdiçar, te trair e voltar
fazer disto meu purgar requerido

escrava do teu suspenso perdão
sorridentar teu chute à minha cara
de bom grado ter seu carinho de navalha
agradecer cada ofensa e muito mais pedir: fala

louca de querer querer
querer querido e não forjado
a estas linhas - oculto o fado -
sou retalho